Pronto, sentei. E agora para levantar? Mas para quê se levantar? Fica aí mais um tempinho e bora fazer alguma coisa gostosa sentindo o piso gelado na bunda. E por quê não?
Você já teve a sensação de estar abrindo uma porta e entrando em um mundo paralelo no simples ato de sentar no chão? Eu me sinto assim. E quando se tem filho, mais ainda.
Quase que dá para fazer uma analogia com Alice e seu país das maravilhas, sabe? Imagina só, você descendo lá daquele mundo de adulto, daquela sua superioridade de gente grande em que você enxerga um mundo que seu filho jura ser de fantasias, mas que você norteia como algo tão pequeno lá de cima e daí se abaixa, se abaixa e se abaixa para ficar nivelado ao chão e enxergar bem de pertinho o que você normalmente chamaria de bagunça.
Uma vez lá embaixo, tudo começa a ter mais sentido. O amontoado de coisas coloridas começa a ganhar forma lógica. A história que te deu preguiça de ouvir e foi respondida com monossílabos começa a ganhar pé e cabeça. Aposto que em algum momento você também já sentiu vontade de juntar todas as cadeiras da sala e circular por debaixo delas como se fossem túneis e por cima delas como se fossem pontes. Agora sim entendi porque o capacete da bicicleta, o tênis do pai, e a caixa de lápis enfileirados formam obstáculos em uma supercompetição que acontece quase que diariamente na nossa sala.
O mundo aqui embaixo é diferente mesmo. E tem de sê-lo. É muito melhor, minha filha, te olhar e te falar de forma nivelada em um plano fechado e frontal que como em um ângulo plongée.
Por isso hoje, sentamos todo no chão para te acompanhar dentro do seu mundo em um café da manhã especial com você. E seu sorriso faz qualquer desconforto temporário na coluna valer a pena. Seja ele visto de cima, de baixo, de frente ou de lado. Sorria sempre que seu coração sentir felicidade.
E para vocês que nos leem neste domingo insosso, experimentem o chão mais vezes. Talvez tudo que você precisa é buscar novas perspectivas.