Oi papai e/ou mamãe, se você chegou aqui neste post é porque está precisando de uma identificação de caso e afirmação de mais pessoas no mundo que estão quase enlouquecendo como vocês. E, provavelmente, você já pensou em levar seu filho de 3 anos para uma análise psicológica. Bom, se você se encontrar neste post, calma, respira, beba uma água, um chá de camomila e trabalhe a paciência. Você vai precisar. Mas a boa notícia é: dizem que passa. E eu estou me apoiando nisso. Repito quase que como um mantra a cada episódio de total histeria “vai passar, vai passar, vai passar”.
Depois de me livrar dos “Terrible Two” (terríveis dois anos), quando a Malu, aquela criança doce e sociável, repentinamente começou a dizer “não”para tudo e a demonstrar as primeiras resistências às orientações dos pais, pensei: “Uffa! Passou.” Aí veio um respiro… que não durou muito.
Vale lembrar, que ainda que ela começasse a demonstrar os primeiros ímpetos de rebeldia, tínhamos com ela uma facilidade imensa de negociação. Os diálogos sempre terminavam bem. Agora não mais.
Ninguém me avisou. Fui pega de surpresa pelo chamado “Tantrum Three” ( 3 anos da birra), aos exatos 3 anos e 6 meses da Malu. Conversando com uma amiga, mãe de uma coleguinha da escola que passa pela mesma situação com a filha, ela me indicou um termo para pesquisa que tem sido usado para falar desta fase, sim papis e mamis, é uma fase, quero te lembrar disso quantas vezes precisar… bom, o termo é autoexplicativo. Threenager. Yeah! Three (três) + Teenager (adolescente), duas palavras que formam um belo casal muito bem shipado: THREENAGER. Adorei. Pois bem, seu filho (a) está na adolescência da primeira infância. Estranho, né? Mas real.
E por que insisto na sua paciência? Porque ele acabou de deixar de ser um bebê e não é de fato um adolescente de 16 anos. Cuidado para não confundir, por mais óbvio que isso pareça. Seu ainda bebê, precisa mais do seu amor, que da sua rejeição. Abandoná-lo no momento de histeria só vai aumentar as tentativas de chamar sua atenção. É fácil? Não. Eu mesma já virei as costas algumas vezes quando senti o sangue ferver, afinal, eles nos desafiam até o nosso limite mesmo.
O que notei
Sempre que abordo ela com uma negativa, impreterivelmente ela vai agir de forma contrária. Tipo: ‘Malu, agora não podemos ligar a TV”. Ela nem queria ver televisão, mas passou a ter uma vontade absurda de ver um desenho. E ela vai me testar quando eu estiver sozinha ou quando estiver em público. Em casa ou em qualquer outro lugar do planeta que os pais, ou qualquer pessoa que crie a criança, estiverem presentes.
Repentinamente a criança nesta idade acorda com uma ideia mirabolante de só vestir uma determinada roupa, ou, talvez, não escovar os dentes nunca mais (é, aconteceu). E ela vai preferir o castigo a ceder ao que eu oriento. E depois de discutir, conversar, se alterar, se acalmar e castigar, lá se foi uma hora do seu dia para realizar a simples tarefa de escovar os dentes, e quando o assunto é comer, triplica. E não se frustre se por acaso você não conseguir atingir seu objetivo. Faz parte.
O vocabulário dela nesta idade está tão extenso, que ela começa a ter uma carga de argumentação que você não sabe de onde vieram tantas palavras do universo adulto e nem acredita no nível de diálogo estabelecido durante uma crise. Ela tem resposta para tudo que você disser e, muitas vezes ela vai te cutucar com palavras que você nem imaginava que ela conhecia. Vai reclamar. Vai falar o que sente e o que pensa da forma mais natural e desafiadora. “Estou entediada. Quero ir embora agora.” – onde foi que ela aprendeu o que é tédio?! E o AGORA?! Tudo é AGORA. Mas não deixo de insistir que ela precisa sempre pedir por favor e que é totalmente desnecessário ela impor o momento emergente.
E quando você perder a cabeça e extrapolar, a threenager vai te lembrar que você passou dos limites. Eu, por exemplo, quebrei um brinquedo dela outro dia, depois de uma série de desafios – sim, ela venceu, e eu perdi o controle, não me orgulho disso, mas pode acontecer. “Você não poderia quebrar meu brinquedo, sabia? Não pode fazer isso.” Sim. Ela está certa. Não posso. Com isso, eu só consegui mostrar para ela que estávamos no mesmo nível e que não há uma certa hierarquia na nossa relação. Eu sou a adulta aqui. Durante as crises do Threenager é difícil de se lembrar disso, mas é necessário. Disputar poder com seu filho não vai te fazer controlar a situação e nem, de fato, te empoderar.
Uma receita infalível para acabar com as crises você não vai encontrar aqui. Porque não existe. Tenho apenas algumas dicas que tem dado melhores resultados, às vezes – apenas às vezes – deixo claro. Não sempre.
Dicas
Dialogar é o primeiro grande passo. Tentar explicar os prós e contras, o que ela pode ganhar ou perder com esta ou aquela decisão ou atitude. Sem ameaças. Pais, sei que as ameaças dão super certo, eu confesso que tem momentos que não dá, eu também as uso, mas é sempre bom evitá-las, principalmente aquelas das quais os pequenos sabem que não vamos cumprir. “Ok, então. Você não vai querer colocar o cinto, então não vai ter aniversário”, aí dentro de um mês aquela festa de arromba. Não rola. Negocia com coisas prováveis e menos material possível. Explica sobre os riscos de andar sem sinto de segurança e recorra a imagens explicativas (permitidas a menores, obviamente), que possa te auxiliar a exemplificar. Dizer os porquês das coisas vai dar não só noção de um melhor comportamento social ao seu filho, como também desenvoltura para diversas outras situações e facilidade de compreensão. Experimenta não se livrar das perguntas repetitivas, capciosas e que dão nó no cérebro, que você vai enxergar um mundo de possibilidades a sua frente.
Uma segunda estratégia que tem dado certo. Fazer a criança refletir com exercício de empatia. Vamos lá: “se eu mordesse em você, você acha que iria doer? Você vai ficar triste se eu fizer isso? Pois bem. Em mim também doeu e me deixou muito triste. Isso não é legal.” Se colocar no lugar do outro é um aprendizado para a vida inteira e você pode começar desde cedo a praticar. “Se você for a casa de fulana e ela não quiser mais dividir os brinquedos com você? Como você vai fazer para brincar com ela? Já pensou nisso?”.
E a terceira e última é buscar referências na literatura. Sim papais. Yeaaah. Ler para seus filhos é aumentar o próprio conhecimento para inserir no mundinho deles. Exemplificar com histórias que eles conhecem facilita o entendimento, assim como contar novas histórias. Eu tenho uma que sempre funciona, que é sobre o João Felpudo, antigo personagem de história infantil que não gostava de tomar banho e não tinha nenhuma prática de higiene pessoal. Minha mãe me contava essa história quando sempre que cortava minhas unhas quando eu era pequenina. E eu conto a minha versão para a Malu. Ela sempre me pede para contar essa história e ela é infalível. E nem precisa ser uma história cheia de medos, apenas com fantasia, um pouco de suspense, uma pitada de realidade e muita diversão.
E por fim, um conselho. Dizem que os pais que ignoram essa prévia da adolescência, costumam enfrentar a próxima em dose dupla. Vai querer pagar para ver? 😀